O tabu da morte

É do senso comum que a morte é inerente à condição humana, contudo, por ser um tema extremamente difícil acaba por ser evitado, adiado, não dito/pensado.

A dificuldade face ao tema é compreensível devido ao peso que comporta – representa a não existência, o não retorno; plasma o desconhecido, o inconcebível. É de facto o terror mais primitivo e primário do ser humano, acompanha-nos desde os primeiros momentos de vida em que, dada a dependência e fragilidade estremas do bebé, o terror e ameaça da não existência pairam a qualquer momento.

Basta sentir a agonia quase psicótica dos gritos de desespero de um bebé, para o qual, uma cólica pode equivaler a uma desintegração atómica.

Existe também uma culpabilidade inconsciente em relação a abordar o tema, como se por falarmos/pensarmos nela a pudéssemos provocar ou “atrair”.

Muitas outras razões poderiam ser apontadas para a tendência a evitar o assunto como, por exemplo, o facto de vivermos numa sociedade de consumo centrada no prazer e na satisfação imediata, rejeitando qualquer espécie de frustração e de imitação. Contudo, a questão diz-nos respeito a todos e torna-se necessário abordar um tema universal, pesado e doloroso. Só através da reflexão interpartilhada e do suporte emocional mútuo podemos preparar-nos para a perda e o luto. É também através da reflexão partilhada que podemos aprender/crescer com a experiência, aprendendo a valorizar mais a vida, vivendo com mais consciência dos limites, da finitude, da nossa humanidade.

Dr. Daniel Figueiredo